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Nossa fábrica pegou fogo

Depois de uma intensa movimentação de cadeiras entre nossos diretores no ano de 2016, começamos 2017 mais tranquilos e com a certeza de que estávamos caminhando no rumo certo. Mas o nosso caminho corporativo é como uma esteira que nunca para, né? E aí algo ainda mais inesperado e assustador aconteceu. Era 14 de fevereiro e eu tinha saído para jantar com a minha esposa Louise. A ideia era comemorar o Valentine’s Day, o dia dos namorados dos Estados Unidos. No meio de uma agradável noite de comida asiática, regada com um bom vinho branco, meu celular toca. Era o Danilo Alamini, gestor do nosso maior fornecedor logístico, a Transportes Itália:

 

— Filipe, não tenho uma notícia boa. A fábrica de resinas está pegando fogo.

 

           Saí correndo do restaurante. Não dava para acreditar no que estava acontecendo. Minha primeira preocupação era com possíveis vítimas. Chegando lá pude constatar que não havia feridos. Foi um alívio. Aí, junto com o meu irmão Rodrigo e os diretores, passamos a noite toda ajudando o Corpo de Bombeiros e nossa equipe de brigada interna a apagar as chamas. Eu não conseguia pensar em nada, só queria que aquilo acabasse logo.

 

           Para entender a seriedade deste fato, quatro anos antes, quando fizemos nosso Planejamento Estratégico, definimos 16 projetos para trabalhar. Para mim, os dois principais eram a formação e capacitação das nossas lideranças para atingirmos as metas de crescimento ao longo dos próximos dez anos, afinal acreditamos que as pessoas são a parte mais importante da empresa; e a construção da fábrica de resinas. Essa matéria-prima tem uma importância tecnológica grande na formulação das tintas e seu custo tem um impacto forte na composição do produto. Ao fabricarmos internamente, reduzimos esse custo e ainda ganhamos em performance, pois temos mais possibilidade de desenvolver novos produtos e flexibilidade de mudanças rápidas na operação e formulação, caso seja necessário.

 

           A fábrica fora construída entre 2015 e 2016 com investimento de R$ 17 milhões na época. Portanto, quando o acidente aconteceu em 2017, ela estava rodando com capacidade total há menos de um ano. Mesmo muito moderna, com o melhor sistema de prevenção e combate à incêndio, não foi suficiente para evitar que perdêssemos toda nossa planta produtiva. Queimou tudo, 100%!

 

           Além dos gigantescos prejuízos financeiros, a perda da produção própria de resina aumentaria em cerca de 28% nossos custos de formulação das tintas e nós já tínhamos colocado em nosso pricing o custo menor, contando com a fabricação própria da nossa matéria prima. Agora, teríamos que comprar de um fabricante terceiro, que aumentaria nosso custo e derrubaria muito nossa margem. Num mercado de margens muito apertadas como o nosso, esse fato poderia inviabilizar a nossa estratégia da política comercial, trazer prejuízos e fazer a Anjo Tintas perder muito market share.

 

           Acionamos a equipe de gestão de risco e, já na manhã seguinte ao incêndio, estávamos planejando como conseguir a resina, sem aumentar muito os custos de produção. Nossa equipe de desenvolvimento e suprimentos pegou um avião e viajou pelo Brasil em busca de um fornecedor com custos viáveis e tecnologia que atendesse nossa demanda técnica. Dez dias depois, conseguimos achar um fornecedor em São Paulo e propomos um processo de terceirização. Nós comprávamos a matéria prima do fornecedor e usávamos a estrutura desse novo parceiro para fabricar a resina, mas a fórmula era nossa. E pagávamos pelo serviço prestado. Nosso químico ficou trabalhando lá como suporte durante uma semana e depois ficou acompanhando por meses a operação, a distância, dando suporte até que tudo ficasse ajustado. Dessa maneira mantivemos a qualidade do nosso produto, não aumentamos muito o custo, conseguimos segurar a nossa política de preços e ainda mantivemos uma margem de lucro segura.

 

           Essa rapidez foi fundamental para continuarmos a produção. E ela só foi possível pois nos planejamos antecipadamente com um projeto de gestão de risco onde mapeamos os principais riscos inerentes de uma indústria química como a nossa e quando o incidente aconteceu, já saíamos exatamente o que fazer! Mesmo com o incêndio não deixamos faltar produtos no mercado. Pelo contrário, no mês seguinte ao incêndio, batemos recorde de vendas e de produção. Foi um gás adicional na nossa equipe que levantou muito o moral da tropa. Isso mostra a importância de ter um comitê de gestão de risco montado. Essa equipe mapeia todos os possíveis riscos do seu negócio e cria planos de ação para cada um deles caso ocorram. Há decisões que não podem esperar para serem tomadas. Com tudo isso, conseguimos viabilizar toda a estratégia definida e ainda tivemos um crescimento em vendas e resultados naquele ano.

 

           O incêndio testou nossa resiliência e senso de urgência. É incrível como um time com um propósito e força de vontade consegue se movimentar para superar os desafios. Sou até hoje extremamente grato pela dedicação dos nossos profissionais que fizeram todo o possível para manter a operação rodando sem prejudicar o mercado. Sempre que alguém me pergunta qual é o diferencial da nossa empresa no mercado, eu falo de alto e bom som que é a nossa equipe. São nossos profissionais que fazem a diferença. Eles são especiais.

 

 

Gostou da leitura?

 

Esse é um trecho do meu livro best seller, "Gestão Profissional na Prática" onde falo deste e de muitos outras temas relevantes para alavancar os resultados do seu negócio. 

abraços,

@filipecolombo